BIO – Maíra Lana
Eu tinha apenas dez anos na época da minha primeira paixão irrefreável pelas artes de encenar sobre um palco. Vi se esboçar, ali, o embrião de uma estrada que nunca mais pude abandonar. Necessitava e necessito dela para viver, para não me permitir apenas sobreviver. O sucesso daquela comédia gerou em torno de dez peças amadoras nos anos seguintes, além de pequenas turnês, prêmios locais e a certeza de que nunca deixaria de ver, diante de mim, explosões de sensação. Toque, cor e som, sombra e silêncio, em sua dança sagrada pelos palcos da minha tela interior.
Nas artes performáticas e de mídia, encontrei meu lugar de expressão, onde pude experimentar, em interseção, múltiplas linguagens artísticas que, desde a infância, despertaram a minha entrega. Dirigi dezenas de peças de teatro e alguns filmes independentes (incluindo um longa-metragem). Expus obras de artes plásticas, desenvolvi performances e apresentações musicais. Realizei experimentos envolvendo meditação e biofeedback, em busca de um estado de presença mais pleno, na vida e na arte. Todas essas experiências fizeram com que eu adotasse a identidade de artista multidisciplinar.
Constituí uma formação incessante, propiciada por uma sede e curiosidade que continuam a me acompanhar. Ganhei outros prêmios, fiz parcerias artísticas que geraram vínculos para a vida inteira, dentro e fora do meu país, e me propiciaram o enriquecimento da minha linguagem artística e da minha humanidade. Apresentei meus trabalhos em várias partes do Brasil, além da Argentina, Chile, Alemanha, França e Estados Unidos (NYC) e conquistei o reconhecimento da mídia nacional. Contribuí com projetos que me apaixonaram, sempre com muito respeito e devoção, procurando me integrar ao todo e aprender sobre o olhar e o sentir dos criadores com quem trabalhei. Idealizei e realizei meus próprios projetos, buscando tornar a arte um instrumento para servir ao cuidado, comigo e com o outro, e à reflexão sobre a nossa frágil e fascinante condição humana. O que me guia, desde sempre, são lampejos que me tomam sobretudo em momentos de rendição e entrega, nos quais sou agraciada com um encantamento pela vida, pela humanidade, com seus paradoxos e limitações, gozos e dores. Por isso estive à frente de projetos e campanhas sociais e artísticas em torno de temas tais como os povos originários, meditação e expansão da consciência, sustentabilidade, masculinidades e gênero, luta étnica e de classe, pobreza, saúde mental. Busco extrair de temas urgentes as entrelinhas, e investigar para além das convenções. O outro sempre carrega camadas invisíveis, que podem ser descobertas se formos além do óbvio. Rico, pobre, homem, mulher, preto, branco, todos têm uma história. Sinto o chamado para olhar cada linha, seja palavra ou ruga, buscando atravessar a superfície dos rótulos, para me deixar penetrar pelo que há de mais essencial e fascinante na experiência de um ser humano.
I was only ten years old at the time of my first unstoppable passion for the arts of storytelling and directing scenes. I saw, in front of me, the sketch of a road there of a road that, since then, I could never leave. I needed, and I still need it to live, and not allow myself to only survive. The success of that comedy generated about ten amateur plays in the following school years, in addition to small tours, local awards, and the certainty that I would never fail to see, in front of me, explosions of sensation. Touch, color and sound, shadow and silence, in their sacred dance across the stages of my inner screen.
In the performing and media arts, I found my place of expression, where I was able to experience, in intersection, multiple artistic languages which, since my childhood, awakened my awareness. I’ve directed dozens of plays and a few independent films (including a feature film). I exhibited fine artworks, developed and presented myself at performance art acts and musical concerts. I carried out experiments involving meditation and biofeedback, in search of a full state of presence, in life and art. All these experiences made me adopt the identity of a multidisciplinary artist.
I build an incessant training that was made possible by a thirst and curiosity that continue to accompany me. I won other awards, made artistic partnerships that created lifelong bonds, inside and outside my country, which allowed me to enrich my artistic language and my humanity. I presented my work in various parts of Brazil, as well as Argentina, Chile, Germany, France and the United States (NYC), and received recognition from the national media. I contributed to projects that I fell in love with, always with a lot of respect and devotion, trying to integrate myself into the whole and learn about the look and feel of the creators with whom I worked. I idealized and carried out my own projects, seeking to make art an instrument to provide care, for myself and for others, and reflection on our fragile and fascinating human condition. What guides me, since always, are sparkles that take me over, especially in moments of surrender, in which I am graced with an enchantment for life, for humanity, with its paradoxes and limitations, joys and pains. That’s why I’ve been at the forefront of social and artistic projects, as well as campaigns on topics such as indigenous peoples, meditation and expansion of consciousness, sustainability, masculinities and gender, ethnic and class struggle, poverty, mental health. I seek to extract the fine print from urgent themes, and to investigate beyond conventions. The other always carries invisible layers that can be discovered if we reach beyond the obvious. Rich or poor, man or woman, black or white, everyone has a history. I feel the call to look at each line, whether word or wrinkle, seeking to cross the surface of labels, and let myself be invaded by what is most essential and fascinating in the experience of a human being.